Dia 15 - COB

27 de Março de 2006
O Tempo é Relativo

Saímos cedo com o Bagual para Cavalcante, são quase noventa quilômetros para o norte e margeando o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Enquanto viajamos sorvíamos um belo chimarrão e contávamos da nossa sorte de ter conhecido pessoas boas e sinceras por todo o nosso trajeto.
Apesar do cansaço e da saudade todos sabemos dos nossos compromissos e ninguém deseja deixar as coisas pela metade. Então colocamos uma música e seguimos viagem de astral renovado.
Chegando em Cavalcante fomos recepcionados pelo Beto que seria o nosso guia no dia de hoje. Ele nos levou para a pousada Vale das Araras, onde já éramos esperados e fomos muito bem recebidos.
Após nos ambientarmos fomos para o nosso primeiro objetivo aqui em Cavalcante, a famosíssima Ponte de Pedra, um vão natural de pedra formado pela erosão causada pelo rio São Domingos. A ponte possui quase trinta metros de altura e se encontra na divisa do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros.
Quando chegamos à propriedade do Sr. Horley, onde fica a Ponte de Pedra, fomos apresentados a ele que demonstrou uma grande preocupação com a situação da entrada norte do PNCV.
O Sr. Horley esclareceu que a sua propriedade se trata de uma área de preservação, de conscientização e educação ambiental. Principalmente voltada para a saúde.
Ele realiza um trabalho denominado “Jornada de Saúde” de caráter preventivo e educativo, onde os interessados realizam diversos exercícios terapêuticos alternativos em convívio com o meio ambiente do cerrado.
Após nos explicar sobre esse seu trabalho, nos liberou para seguir a trilha em companhia de um funcionário seu chamado Nezinho. Seguimos de carro até um certo ponto e depois começamos a caminhada de cinco quilômetros até o Mirante da Ponte de Pedra.
O início da trilha é bastante íngreme e o cansaço dos dias anteriores começou a agir até que começamos a nos distanciar. Eu seguia de perto o Nezinho, enquanto o Germano e o André acompanhavam o Beto um pouco mais para trás. Em dado momento enquanto observava o ritmo contínuo do Nezinho e com muito suor pelo rosto entrei numa viagem delirantemente regressiva.
Imaginei-me como um antigo africano seguindo um espírito andarilho dos bosques chamado de zambi. Era como se aquele passo ritmado associado ao calor me fizessem visitar outras esferas do tempo.
Por um longo trecho eu senti essa sensação até que o Nezinho resolveu dar uma parada para esperar os outros. Nesse momento ele me contou que era calunga e que estava há pouco tempo trabalhando com o Sr. Horley. Essa informação me fez pensar na viagem que eu tinha feito e imaginar que não fosse somente coisa da minha cabeça, que talvez já tenha acontecido em outro tempo e lugar.
Continuamos a subida pela trilha de quartzo branco até avistar a Ponte de Pedra com o rio passando por baixo. O lugar é muito bonito e por si só já valeria a caminhada. Mas o melhor anda estava por vir.
Um pouco, mas acima está o mirante, a mais ou menos 1100 metros, onde podemos observar o vão do Rio Claro para um lado e para o outro a Cachoeira da Ponte de Pedra.
Sentados lá no alto podemos sentir uma paz, e uma sensação de que o tempo não conta para nada ali. Enquanto curtíamos aquele momento único de contemplação como se fosse um instante parado no ar, não percebemos a aproximação de uma nuvem de chuva.
Resolvemos então começar a voltar, mas não conseguimos escapar da chuva. Nos dois últimos dias o Sol não tem aparecido por completo. Será que ele cansou também?
Quando retornamos à cidade conhecemos o Cleiton da Suçuarana que nos explicou como seriam os próximo dias e nos indicou um bom lugar para o merecido almoço. O restaurante Dona Joana tem um buffet de comida caseira muito gostosa.
Depois do almoço o fato mais marcante é que aquela imagem de outro lugar que surgiu na minha mente permaneceu tilintando na cabeça. Fico pensando que estar nessa região talvez seja a proposta de algum resgate anterior. Ou então o que aconteceu seja apenas uma miragem causada pela falta de sais minerais.
Talvez eu descubra nos próximos dias.



Por Diego Beck


Dica do dia: Quer um almoço bastante diversificado vá ao Restaurante Dona Joana. Na rua do Dendê número 68. É só falar com o Max que você será bem atendido

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